Cantos da FlorestaIniciação ao Universo Musical Indígena

Palavras que viraram música

Existem algumas canções que utilizam nomes de povos indígenas e palavras de origem Tupi-Guarani na sua composição como, por exemplo, a Chegança de Antônio Nóbrega, Tupari e Asurini de Magda Pucci, interpretada pelo grupo Mawaca.  

Ouvir e cantar essas canções pode ser um estímulo para se enveredar pela temática indígena e disparar um processo criativo. Sugerimos uma escuta e uma análise detalhada da música Tupari, que utiliza nomes dos povos da região do Guaporé, seguida de um trabalho de criação.

 

Ouvindo e analisando a composição Tupari

A música Tupari foi composta utilizando a sonoridade de alguns nomes de povos indígenas da região do Guaporé, em Rondônia: Tupari, Makurap, Jabuti, Aruá. Depois desses 4 nomes, surge a palavra Guaporé como uma finalização dessa frase. Sugerimos uma atividade de percepção e análise dessa música, que pode ser disparadora de um processo de criação coletiva a ser desenvolvido com os alunos, posteriormente, utilizando esse mesmo recurso de reunir palavras indígenas explorando sua rítmica.

 

A rítmica das palavras

Ao ouvir a gravação, perceba que as quatro palavras acima e a sua junção criaram uma frase musical com uma rítmica interessante.

Vocês podem observar alguns elementos, como: em que momento o som é mais longo, quando ele é mais curto, quantas sílabas cada palavra tem, entre outras percepções. Cada palavra possui uma rítmica natural que conduz um desenho rítmico próprio.  Enquanto que a palavra Tupari tem a última sílaba prolongada, a palavra Guaporé, que naturalmente falamos com três sons curtos, isto é, com uma divisão ternária, falada três vezes seguidas, provoca uma quebra no ritmo. Observe os acentos e a prolongação do som:

Tupari _ MakurapJabuti Aruá _ _ Tupari _ MakurapJabutiAruáGuaporéGuaporéGuaporé _ _ _

 I   I   I  x   I   I   I  I   I  I   I  I  I  I x  x   I   I   I  x   I   I   I  I  I  I  I  I  I  I  I   I   I    I    I    I     I    I    I   x   x  x

 

A citação

Ao ouvir o arranjo do Mawaca, você perceberá que no meio da gravação surge uma outra melodia – a  Cantiga de Winih, o pássaro que rouba as crianças com sua flauta encantadora. Isso é o que chamamos de citação musical. Nesse momento, as vozes recebem um efeito especial que as inverte, criando sensação do sobrevoo que Winih faz ao tentar roubar as crianças.  

Quando as cantoras repetem, quatro vezes, a frase oinirangaka, há uma sobreposição das vozes que se movimentam para o agudo, reforçadas por efeitos eletrônicos para provocar a sensação de que as vozes ganharam uma dimensão sobrenatural.

A inserção da Cantiga de Winih no meio da música Tupari traz inúmeras possibilidades de contextualização. Como essa canção é dos Paiter Surui, outro povo indígena de Rondônia, pode-se aproveitar esta oportunidade para  falar um pouco para os alunos sobre esses povos e propor uma pesquisa comparativa entre os povos do Guaporé, reconhecendo suas semelhanças culturais, termos que um e outro usam, lendo sobre os mitos de cada um, conhecendo outras canções etc.

 

Inserção do Mito

Depois da citação da Cantiga de Winih, uma das cantoras do grupo, conta um trecho do mito da criação da humanidade dos Paiter Surui. Ao longo da narração, são usados efeitos sonoros eletrônicos para se criar uma ambientação mais propícia para o conto. Perceber este recurso e mesmo se enveredar por esse mito pode ser transformar em uma possibilidade de abordar os Paiter Surui, iniciando com a contação do mito e mesmo com a proposta de uma sonorização do mesmo. Saiba mais sobre o mito e a cantiga de Winih na pág. 271 do livro Cantos da Floresta.  

 

Arranjo com elementos eletrônicos

Observe que esse arranjo é um exemplo que une a linguagem dos sintetizadores com a linguagem dos arranjos acústicos. Consideramos uma boa oportunidade para ampliar a percepção dos alunos em relação às inúmeras possibilidades de uso dos sintetizadores, tão presentes na música pop. Nesse caso, os sons eletrônicos se fundem com os acústicos reforçando a ideia da música, o que ela quer passar e o que ela propõe.

 

Outras palavras

Observe que taboca e tarumã não são nomes de povos e sim de objetos usados pelos povos daquela região. Taboca é uma palavra de origem tupi, que significa planta oca, sem nó. É uma vara verde da espessura de um dedo polegar, encontrada em quase toda a Amazônia, muito usada na fabricação de flechas, flautas e cestos. Já tarumã, também conhecida como “azeitona do mato”, significa “fruta escura de fazer vinho”. Com essa frutinha, os indígenas do Guaporé fazem uma bebida fermentada, usada no dia-a-dia ou durante os rituais.

Chamar a atenção para essas palavras pode ser uma oportunidade para fazer conexões com outras áreas do conhecimento, como português, por exemplo. Pesquisar a origem etimológica das palavras, poderá render um bom trabalho interdisciplinar!

 

Composição coletiva inspirados na música Tupari

A proposta de escuta acima descrita pode ser um estímulo para a criação coletiva de uma música com nomes de povos ou palavras indígenas. Você e seus alunos podem fazer um levantamento de palavras que percebam uma sonoridade ou uma rítmica interessante e selecionar as que mais agradam o grupo. Você pode levar na sala alguns dicionários e livros com palavras indígenas ou pesquisar na internet. Após esse primeiro momento, iniciar uma exploração da junção das palavras e de possíveis recursos inspirados na música Tupari ou não. Gravar as ideias e ouvir são ótimas ferramentas de trabalho para o processo de composição coletiva.

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