Cantos da FlorestaIniciação ao Universo Musical Indígena

Ouvindo e conhecendo a cantiga da coruja

A música Murukututu é uma ótima oportunidade para introduzir seus alunos ao repertório de acalantos indígenas. Como a figura da coruja da noite está presente em várias cantigas de ninar, essa versão do Rio Negro pode despertar a curiosidade deles. Sugerimos iniciar esta atividade a partir da escuta:

 

  • Preparar o ambiente com uma luz mais suave, deitados de olhos fechados, confortavelmente, pode tornar a atividade mais envolvente.
  • Antes da escuta da música, sugerimos conduzir um breve relaxamento, escutando a própria respiração, os sons de dentro e de fora da sala.
  • Você pode produzir alguns sons com elementos da natureza, como galhos, folhas secas, pedrinhas e até jogar um pouco de água de um copo para outro, enquanto os alunos ainda estão de olhos fechados. Estes sons ajudam a criar uma paisagem sonora e envolver seus alunos em uma escuta mais atenta.
  • Após esse ambiente sonoro, coloque a gravação da música Murukututu.  
  • Depois da escuta, pode ser interessante estimular uma conversa sobre as sensações de todo este processo, desde o relaxamento até a escuta propriamente dita.
  • Sugerimos. também, uma segunda escuta da música com a atenção voltada, agora, para a percepção dos diversos elementos musicais, como: o timbre da voz da mulher indígena, a forte nasalidade, o fonema brrrr imitando o chirrio da coruja, a exploração da vogal u com tutu, vogais como o “y”, que é uma mistura de “i” com “e”, que não existem na língua portuguesa, além do contorno melódico sobre uma escala não temperada, entre outros.
  • Após essa escuta apurada, você pode propor que os alunos pesquisem outras cantigas de ninar que falem sobre a coruja, como também uma pesquisa sobre esse animal tão simbólico.
VOCÊ SABIA?  
Palavra de ornitólogo

A coruja murucututu é uma figura  simbólica, que pertence aos mitos de diversos povos indígenas. Murucututu é o nome popular da coruja (duas espécies – Pulsatrix Perspicillata e Pulsatrix Koeniswaldiana) que reproduz dois  tipos de sons: o canto e o grito. A Perspicillata vive na região da Amazônia e do Pantanal. A Koeniswaldiana vive na Mata Atlântica – local onde foi registrado o som da nossa gravação pelo ornitólogo Dante Buzzetti).

O canto, é na realidade, um ruído grave com um ritmo leve, utilizado como forma de demarcação de território, principalmente, no período de acasalamento da espécie. Como essas corujas se alimentam de roedores, é muito comum encontrá-las perto das casas.  Daí a idéia de que o ruído (canto) do murucututu no telhado venha atrapalhar o sono das crianças – algo muito presente nas letras dessa cantiga: ‘sai de cima do telhado, deixa esse menino dormir sossegado’…

O grito – que se parece com a voz humana – tem a função de comunicação entre o macho e a fêmea, quando estão separados no meio da floresta.. Criam um diálogo que é  amedrontador para quem o ouve, e por isso são considerados aves de mau-agouro. A impressão de que o som vem ‘do além’ advém da voz da coruja ser ventríloqua, portanto é extremamente difícil identificar o local onde ela se encontra, apenas, pelo som.

O termo popular da coruja ‘murucututu’ talvez tenha tido sua origem na tentativa de reproduzir o som do canto da coruja. Segundo o ornitólogo Dante Buzzetti, a análise do fonograma do canto dessa coruja detecta cinco sons seguidos e é possível identificar essas sílabas:  mu-ru-cu-tu-tu.